Fenafar realizou debate: A vacina anticovid da UFMG.

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Na última quinta-feira, 01 de abril, a Federação Nacional dos Farmacêuticos realizou um debate sobre as perspectivas de desenvolvimento de novas vacinas para a Covid-19 em curso na Universidade Federal de Minas Gerais.

Não apenas a UFMG, mas outras instituições de ensino e pesquisa do país estão empenhadas na busca de um imunizante nacional. Essas iniciativas são fundamentais para aumentar a oferta de vacinas, o que é indispensável para agilizar a vacinação da população brasileira, e para reduzir os custos do Estado com a vacina. A produção de imunizantes nacionais é mais econômica do que a aquisição de vacinas comercializadas pelas grandes indústrias farmacêuticas.

Participaram do debate a reitora da Universidade Federal de Minas Gerais, professora Sandra Regina Almeida, o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, o presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos, Ronald Ferreira dos Santos, a presidente da Comissão de Educação e Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, deputada Beatriz Cerqueira e o professor e farmacêutico Gerson Pianetti. O debate foi coordenado pelo diretor da Fenafar e do sindicato dos farmacêuticos de Minas Gerais, Rilke Novato Públio.

Tecnologia 100% nacional

Em sua exposição, a reitora da UFMG destacou a importância do estado de Minas Gerais no cenário nacional de produção científica. Minas conta com o maior número de instituições de ensino superior públicos do Brasil, que se constituem em um importante potencial e patrimônio não só para o Estado, mas para o país. 

Sandra Regina destacou que a UFMG trabalha com sete projetos para o desenvolvimento de vacinas: cinco no CTVacinas (Centro de Tecnologia em Vacinas), localizado no Parque Tecnológico de Belo Horizonte (BH-Tec) e que contam com participação do Instituto René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-Minas), e outras duas no Instituto de Ciências Biológicas (ICB).

A reitora lembrou que essas não são as únicas iniciativas. No total são 17 pesquisas em curso que são candidatas vacinais no Brasil. “Nós temos capacidade de pesquisa nas nossas instituições. Nós precisamos trabalhar juntos para produzir. A gente desenvolve, pesquisa, patenteia, mas no final não conseguimos produzir, é o que chamamos de vale da morte”, disse a reitora ao se referir ao principal gargalo da cadeia produtiva de medicamentos no Brasil, o desmonte do parque industrial. “A gente não tem como produzir toda a cadeia produtiva no Brasil. Por isso a necessidade de parcerias internacionais. Mas a tecnologia é 100% nacional” afirmou Sandra sobre as pesquisas em curso na UFMG.

E esse déficit traz imensos prejuízos à vida, à saúde e à economia. Isso, porque, os preços de vacinas e medicamentos já produzidos no Brasil, quando comparados com os preços gastos praticados pelas indústrias farmacêuticas para importação mostram que o produto nacional é muito mais barato, levando a redução de custos para os cofres públicos. É considerável a redução dos custos a partir da substituição das importações. “Isso é muito importante não podemos continuar dependendo da importação nem dos insumos farmacêuticos nem do produto final. Essa dependência nos torna reféns, e resulta em escassez de vacinas, porque hoje temos os países competindo pelas mesmas vacinas, dificultando o acesso para a população. Além disso é uma questão de soberania”.

Outro fator importante lembrado pela reitora é a necessidade de as universidades e os centros de pesquisa, a partir do contexto local, desenvolveram protocolos para a identificação e o rastreamento das novas variantes do vírus, o que é indispensável garantir a eficácias das vacinas. “Os estudos das variantes para embasar a produção de vacinas é muito importante”. 

Sobre as vacinas em desenvolvimento na UFMG, Sandra Regina destacou que a mais avançada é a Quimera Proteica. Além do desenvolvimento, a UFMG também tem participado dos testes das vacinas. “Temos trabalhado com os testes da fase 3 da Coronava e também da Johnson e Johnson”.

Mas, todo esse trabalha exige investimentos massivos em Ciência e Tecnologia, que infelizmente não é o que vemos atualmente no país. 

Lutar por recursos para C&T

A deputada estadual Beatriz Cerqueira elogiou o trabalho realizado pela UFMG, que é motivo de orgulho para todos os mineiros. No entanto, se as políticas públicas de investimento em C&T fossem outras Minas e o país estariam em outras condições para enfrentar a pandemia. A Constituição de Minas Gerais determina que 1% do orçamento do estado seja destinado para os investimentos nessa área, mas, segundo a deputada, em 2020 o investimento ficou em menos de 20% do total que deveria ter sido investido. “Não cumprimos nem a determinação constitucional”, lamenta. “Esse desequilíbrio, que se transfora em desigualdade, se deve a opções políticas do governo, que promove cortes, contingenciamento de recursos e perseguições”, denuncia Cerqueira.

Para a parlamentar, nem o Brasil e nem o governo do Estado de Minas tem uma coordenação para enfrentar a Pandemia. “Nós precisamos cobrar financiamento público, o fortalecimento das nossas universidades”, porque na sua visão o que está em jogo no Brasil, e no mundo é uma disputa civilizatória, “do que será o nosso futuro, se conseguiremos superar a pandemia com a vacinação e não com a higienização, se vamos manter a vacina como direito e não como mercadoria, que é o que começa a se desenhar em propostas no Congresso Nacional”, lamenta. 

O professor Gerson Pianetti centrou sua intervenção no cenário nacional de ausência de investimentos em pesquisa no país, um déficit que acompanho o Brasil há muitos anos. Temos problemas de investimentos, para garantir a sustentabilidade dos laboratórios, que para sobreviver precisam vender seus serviços para a iniciativa privada, além de não haver recursos públicos disponíveis, enfrentamos o problema de não conseguir executar o pouco que nos é garantido por previsões legais. “O atraso do Brasil no campo da C&T só não é pior porque existem organizações acadêmicas, sociais, pesquisadores e profissionais que dedicam suas vidas à essa luta. 

Pianetti destacou também a importância do farmacêutico e a necessidade de vacinação para a categoria. “O farmacêutico é um profissional da linha de frente que precisa ser vacinado. Todo mundo que tem uma dor de cabeça procura a farmácia. Inclusive, esse modelo de farmácia que não é um ambiente sanitário, temos que acabar com isso. A farmácia precisa estar integrada às políticas de saúde, não é um estabelecimento comercial”.

A esperança é a vacina

O presidente do Conselho Nacional de Saúde, Fernando Pigatto, trouxe um panorâma das ações que o CNS vem desenvolvendo desde o início da pandemia, lutando para que o Brasil assumisse uma postura ativa de enfrentamento à pandemia e de busca pela vacina. “O problema é que temos um governo que decidiu não acreditar, é um governo que optou por um projeto de morte, de adoecimento, de aumentar os ataques ao Sistema Único de Saúde”, disse Pigatto. Houve na sua visão uma decisão do governo em não enfrentar a pandemia, em sabotar o isolamento, o uso de máscaras e menosprezar a busca de vacinas, a despeito dos alertas das autoridades sanitárias nacionais e internacionais.

Entre os exemplos que ele trouxe para mostrar a opção do governo de menosprezar a vacina, Pigatto lembrou que ainda em meados de 2020, a Organização Mundial da Saúde tinha possibilitado ao Brasil oferta de vacinas para imunizar 50% da população,  com a vacina do Consócio. O governo brasileiro optou pelos 10% porque era o mínimo.

Além disso, se não fosse o STF ter dado, em dezembro de 2020, um prazo de 5 dias para o governo apresentar um plano nacional de operacionalização da vacina, provavelmente ainda estaríamos sem planejamento.

“Nossa colaboração tem sido permanente e cotidiana para enfrentar a pandemia, o pandemônio e seus seguidores que tentam desesperançar, e a gente segue lutando para que a esperança aconteça todos os dias”, disse Pigatto, e a vacina é a esperança. 

Valorizar o trabalho e vida - Fora Bolsonaro

O presidente da Fenafar, Ronald Ferreira dos Santos, destacou que nos últimos anos a Fenafar vem se posicionando na perspectiva de ressaltar que o compromisso principal da categoria farmacêutica é “cuidar da vida, cuidar da ciência e cuidar dos afetos”. 

Ele ressalta que “ver a UFMG produzindo pesquisa em torno da vacina é um sinal de esperança e um esforço central. Vivemos um tempo de negação do trabalho, o que vale é a inteligência do negócio. É importante essa revolução e a convergência tecnológica que nós vivemos no nosso tempo, mas o trabalho e a inteligência são peças inseparáveis de qualquer projeto possível de avanço civilizacional. Tudo o que temos hoje é resultado do trabalho, e isso precisa ser valorizado”.

Para o presidente da Fenafar, o trabalho realizado pela UFMG “mostra que é possível por luz e resistir. Essa é a tarefa do profissional farmacêutico: buscar nas forças da natureza e transformá-las com o nosso trabalho e ciência as possibilidade do homem viver mais e melhor”.

É preciso reforçar, ainda mais nas condições atuais, “que os medicamentos e as vacinas são insumos garantidores do direito à saúde e que precisamos de um Estado que garanta esse direito. O que nós assistimos hoje é a liquidação do Estado. O negócio e o mercado tomando conta de absolutamente tudo, numa tentativa de mercantilização da vida. São movimentos que querem destruir as conquistas da sociedade brasileira, mas também de impedir avanços futuros”, ressalta Ronald. Ele alerta que o desmanche do Estado ocorre em todas as áreas e dimensões, não se dá somente na área da saúde e da destruição do complexo industrial da saúde. Vivemos um processo acelerado de desindustrialização do país. Ele exemplifica citando os casos da Ford e da Sony que fecharam suas fábricas e abandonaram a produção no Brasil.

“Mas aqui tem gente que resiste, pensa e luta para construir uma grande nação brasileira”, enfatizou colocando como bandeira que deve estar na ordem do dia a luta pelo Fora Bolsonaro.

Da Redação, por Renata Mielli
Publicado em 05/04/2021